Pare de Terceirizar o seu cérebro
Estudo Aponta Que a IA Está Reduzindo a Capacidade Cognitiva das Pessoas, a IA está nos deixando mais preguiçosos? saiba como evitar isso.
A Razão, para Locke, é a capacidade humana que nos distingui dos animais, e ninguém duvidaria de que há, de fato, uma enorme diferença entre o comportamento cognitivo do ser humano e o dos outros animais. Nosso cérebro, um aparato biológico fruto de milênios de evolução, tem incríveis aptidões que nos permitem refletir, operar e sobreviver no nosso mundo, e graças a ele somos criativos para resolver problemas e moldar o ambiente para suprir nossas necessidades, especialmente pela nossa proficiência em desenvolver ferramentas e tecnologias. Ironicamente um estudo recente indicou que um grande avanço tecnológico pode ter afetado habilidades de pensamento crítico e tomada de decisão e esse será o alerta para você parar de terceirizar as capacidades do seu cérebro.
autor desconhecido
Publicado na revista Societies, um estudo recente investigou como a crescente dependência de ferramentas de Inteligência Artificial (IA) poderia afetar negativamente o pensamento crítico, tomada de decisão e análise crítica. O Estudo identificou um fenômeno que nomearam como “Descarregamento cognitivo” que, em poucas palavras, ocorre quando usamos aparatos e instrumentos para realizar atividades que demandariam um esforço cognitivo o que leva a um declínio no envolvimento cognitivo e no desenvolvimento dessas habilidades. A pesquisa com 666 participantes de diferentes grupos demográficos avaliou o impacto das ferramentas de IA nessas competências. Os cientistas descobriram que usuários frequentes de IAs demonstram maior tendência a delegar tarefas mentais à tecnologia, confiando nela para resolver problemas e tomar decisões, em vez de exercitar o pensamento crítico de forma independente, com o tempo, participantes que dependiam muito de IA apresentaram menor capacidade de avaliar informações criticamente e desenvolver conclusões complexas, suas capacidades foram simplesmente corroídas e seus desempenhos ficaram abaixo da média. Outro achado preocupante foi a comparação entre as faixas etárias, pois em comparação com os mais velhos, os participantes mais jovens mostraram maior dependência de ferramentas de IA, o que pode ter como consequência a longo prazo efeitos adversos ainda mais significativos, já os participantes mais velhos relataram menor dependência de ferramentas de IA. Eles descreveram uma preferência por métodos tradicionais de resolução de problemas e coleta de informações, pois sentiam que mantinham suas habilidades cognitivas mais afiadas. Com as IAs mais acessíveis, elas estão sendo amplamente incorporadas nos mais variados contextos profissionais e sociais, mesmo os mais críticos e que presumidamente exigem da expertise e do julgamento humano, como as áreas jurídicas e da saúde. Contudo, as IAs não são infalíveis e podem entregar resultados imprecisos e até incorretos e a alta responsabilidade aliada ao forte impacto que esses erros podem causar, destaca-se a necessidade de assegurar a ética dos processos para não comprometer sua qualidade. Mas o foco aqui é em como o uso dessas ferramentas em tarefas do cotidiano minou as capacidades cognitivas dos participantes, em maior ou menor grau, independente da faixa etária e da escolaridade e o que isso pode significar no âmbito individual e coletivo.
Os cientistas descobriram que usuários frequentes de IAs demonstram maior tendência a delegar tarefas mentais à tecnologia, confiando nela para resolver problemas e tomar decisões, em vez de exercitar o pensamento crítico de forma independente
Nós somos dotados de uma racionalidade e há quem defenda que ela é inerentemente humana. Todavia, o desenvolvimento da nossa sociedade se deu através da confecção de ferramentas que nos ajudaram a moldar e construir nosso mundo, e toda ferramenta tem uma função racionalidade associadas a ela. Isso ficou cada vez mais evidente a partir da Revolução Industrial, que sintetizou a racionalidade em objetos cada vez mais complexos e engenhosos, a exemplo do relógio, onde sua função é nos dizer as horas de uma forma objetiva e prática, para que não tenhamos que apelar para métodos mais primitivos de contagem de tempo, existindo neste objeto uma racionalidade que nos permite organizar uma rotina e demais utilidades. Um calendário define datas, ciclos e frequência de períodos que sejam relevantes para uma cultura ou sociedade, tendo uma racionalidade de um conjunto de pessoas, e algo abstrato e humano está operando este aparelho, passando ele a ser a versão física de uma racionalidade. Mas a medida que a sua vida passa a depender cada vez mais desses objetos sempre mais complexos, a racionalidade passa a ser encontrada mais comumente fora do ser humano, uma racionalidade específica de estar e operar no mundo a nossa volta, não sendo um exagero dizer que esses objetos pensam por nós.
“Esses objetos pensam por nós”
Muitos entrevistados, especialmente os mais jovens, expressaram uma forte dependência de ferramentas de IA para tarefas que vão desde a simples ação de recordar informações até processos de tomada de decisão mais complexos, tornando ferramentas de IA, como assistentes virtuais e mecanismos de busca, parte integrante de suas rotinas diárias. Um estudo de 2011 demonstrou que a disponibilidade de informações por meio de mecanismos de busca pode afetar a retenção de memória e a inclinação para processar informações profundamente, e um tema recorrente entre os participantes foi a conveniência e a velocidade que essas ferramentas oferecem, o que frequentemente levava à descarga cognitiva. Os participantes admitiram que frequentemente dependiam da IA para lembrar informações, resolver problemas ou tomar decisões em vez de se envolver em processos cognitivos mais profundos, um participante de meia-idade observou: “Eu me pego usando ferramentas de IA para quase tudo — seja para encontrar um restaurante ou tomar uma decisão rápida no trabalho. Isso economiza tempo, mas eu me pergunto se estou perdendo minha capacidade de pensar nas coisas tão completamente quanto eu costumava fazer”.
“Isso economiza tempo, mas eu me pergunto se estou perdendo minha capacidade de pensar nas coisas tão completamente quanto eu costumava fazer”
Ao comprarmos um objeto que facilita a nossa vida, existe nele um pensamento e uma racionalidade materializada que pode ser repetitiva e mecânica ou hiper complexa como uma inteligência artificial que mais do que nunca está pensando por você. No entanto, não sejamos alarmistas ou contra a tecnologia, inúmeros cientistas já estabeleceram que o papel da IA deve ser o de complementação das funções cotidianas e não a total substituição do ser humano. Do ponto de vista institucional é imprescindível que as organizações desenvolvam padrões robustos para o uso dessa tecnologia e garantam que os profissionais sejam treinados para compreender seu potencial e suas limitações, mas individualmente, fica a reflexão do impacto que essa tecnologia possa ter no desenvolvimento cognitivo humano, pois nunca antes uma invenção humana teve tanto potencial de ultrapassar os atributos de nossa espécie. E sim, já existem super computadores , softwares capazes analisar bilhões de dados e nos dar respostas que um humano comum seriam incapaz, mas agora essa possiblidade chegou nas tarefas do cotidiano e nas atribuições que envolvem nossas habilidades criativas, de julgamento e de pensamento crítico, terceirizar a um objeto a tarefa de pensar logicamente e resolver problemas do dia-a-dia é delegar a esses dispositivos a nossa capacidade de operar no mundo em nosso lugar, pois ao pensar por você essas ferramentas também decidem por você. Por isso seja responsável no uso desses instrumentos, se engaje em mais tarefas que exijam de suas faculdades cognitivas como leitura, raciocínio e comunicação, tarefas e desafios do cotidiano, empenhe-se para resolve-los, crie e não seja passivo com as informações que recebe, se aprofunde nos temas e correlacione seus conhecimentos, evite cair em atalhos e aprofunde suas capacidades pois, à medida que as ferramentas de IA se tornam cada vez mais integradas à vida cotidiana, seu impacto nas habilidades cognitivas fundamentais trazem a necessidade uma reflexão cuidadosa, pois embora as ferramentas de IA ofereçam benefícios inegáveis em termos de eficiência e acessibilidade, elas podem inadvertidamente diminuir o envolvimento dos usuários em processos de pensamento profundo e reflexivo.
O estudo também destacou o papel da educação na mitigação dos potenciais efeitos adversos do uso de ferramentas de IA, pois o maior nível educacional foi associado a melhores habilidades de pensamento crítico. Sendo assim, devemos explorar estratégias para o engajamento cognitivo, garantindo que estejamos equipados com as habilidades necessárias para navegar em um cenário digital cada vez mais complexo, caso contrário, seremos uma geração que estará cercada o tempo todo por coisas que pensam, determinam e decidem por nós.
Que importante esse texto. A IA está sendo usada tão frequentemente desde para buscar respostas das questões de trabalhos acadêmicos (ou até mesmo fazer eles por você), até para pedir conselhos sobre o que fazer quando se sente chateado com algo que aconteceu. Eu acho que a IA tem grande potencial para ajudar o ser humano, mas é uma isca muito poderosa pois oferece algo que o ser humano busca: satisfação das necessidades, e de forma rápida e fácil. Porém nem sempre o que é rápido e fácil é o que trará maiores benefícios ou sequer é a escolha correta. Esse texto foi muito importante contendo várias informações preciosas
Cara, que foda! Eu já fiz esses exercícios de usar a IA para tomar decisões. Não sabia desses efeitos a longo prazo por que parece algo muito inofensivo, do tipo "ahh vamos ver o que a IA falaria pra mim sobre este assunto". Muito interessante. É uma chamada para ter um olhar atento sobre as coisas, sempre